- setembro 11, 2020
- postado por: admin
- Categoria: Geral
Apesar dos avanços ocorridos, ainda é frustrante a qualidade da construção dos edifícios de escritórios no Brasil.
Alguns dirão que nossa arquitetura e engenharia nada devem às mais avançadas do mundo, que devemos prestigiar “nossos” profissionais. Ridícula cantilena corporativista. Arte e conhecimento não vicejam com patriotismo, pelo contrário, florescem na liberdade.
O “nós contra eles” é a proposta dos partidários da rota rumo ao atraso. Atraso até pode ser positivo. Podemos copiar. Copiar seria indigno, submissão? Submissão é não superar nossas deficiências; indigno é uma sociedade estagnada que não consegue prover educação e oportunidades a todos. Será que somos tão mais inteligentes que japoneses, coreanos e tantos outros que copiaram sem pudor e agora fazem poeira nos antigos mestres?
Boa parte dos projetistas é impermeável a mudanças, desenhando “como sempre”, sem audácia, sem atualidade, fantasiando passado de glórias inexistentes, entregando pouco e reclamando muito, especialmente de remuneração. A criatividade brasileira tão presente na música, no carnaval, onde está? Não em nossas cidades, onde o design foi emasculado e o urbanismo expulso dos espaços, ocupado pelos burocratas que querem, hoje, impor suas verdades absolutas ao mesmo tempo em que negam as bobagens absolutistas de ontem
É claro que não são poucas as pedras no caminho da qualidade. Nosso subdesenvolvimento gera pouco volume, concorrência limitada, cartelização e altas margens e custos. Não abraçamos o pragmatismo e como somos “doutores” não achamos que precisamos de lição de casa. Preferirmos o discurso cansado das ideologias fora de moda ou os modismos sem ideias. Falta infraestrutura, faltam fornecedores, falta competição, falta confiabilidade, falta integração global. Falta visão de longo prazo e faltam também recursos.
Estas últimas faltas são frutos dos altos juros do Brasil – aberração estrutural e histórica – que, de tão persistente, deturpa nossa forma de ver o mundo, reduz a ambição dos projetos, lhes retirando a escala necessária às mudanças; distorcendo o foco e minguando inovações. Pensar em qualidade requer visão, escala, planejamento e atitudes éticas. Alto custo financeiro promove o giro rápido, numa corrida que, às vezes, acaba em atalhos nem sempre éticos.
São efeitos deletérios majorados pela insegurança jurídica, pela incerteza regulatória e pela instabilidade política. O “instinto animal” do empresário, cansado de porrada, se acomoda ou na mera sobrevivência, ou na subserviência ou no oportunismo.
Paradoxalmente, nossa regulamentação consegue ser minuciosa sem deixar de ser vaga, obscura e burra, produzindo o efeito de ocupar o espaço expulsando quaisquer outras condicionantes de projeto. O Design restringe-se a atender a norma, o zoneamento, a burocracia.
Esses excessos regulatórios matam a inovação, encarceram o design em fórmulas cansadas e, inexoravelmente, carregam em seu bojo uma infestação de consequências não previstas. E o constante “aprimoramento” das normas elevam as barreiras de entrada, empurrando muitos para a informalidade, para fora do abrigo da lei.
Bem, peço desculpas pelo tom raivoso mas o “que está aí” não é fruto do acaso nem da “maldade dos especuladores imobiliários”. Já passou da hora de melhorar a qualidade da construção bem como, aliás, da saúde, da educação, da segurança e de tudo mais.
A construção de escritórios não tem equação Isolada, ou se resolve tudo ou não se resolve nada. Para melhorar a qualidade da construção, e de tudo mais, vamos precisar fazer um retrofit do Brasil.