Edifício inteligente? Só se for um edifício que ensina.

Meu saudoso pai, que muito me ensinou, sempre dizia: “O segredo é a alma do negócio”. Ele prezava muito a educação e a verdade. Recebi muitas lições dele, assim como seus valores.

No B32, decidimos ir além da propaganda e da simples divulgação. Vamos abrir e expor o processo de concepção, design e construção através de um leque de iniciativas nas mídias sociais. Montamos o usual site, uma página no Facebook e este Blog. Nessas mídias, os projetistas, consultores e demais participantes do time irão contar o quê, o como e o porquê de cada aspecto do projeto, desde a compra dos 35 terrenos, a interação com a comunidade, até a discussão das ideias e dos conceitos utilizados, chegando à operação do edifício pronto após o “habite-se”. Não fazemos isso “só por marketing”, como algum cínico poderia dizer. Queremos mais, queremos fazer do B32 um prédio didático e educativo.

 

O que é isso?

Além de divulgar. os processos de design e construção, vamos também abrir o prédio à visitação. Não apenas para uma “visitinha social”, uma verdadeira experiência, uma oportunidade de aprendizado. Por exemplo: nossas áreas técnicas, além de desenhadas para facilitar a visitação, conterão telas com vídeos explicativos de todos os equipamentos e processos presentes naqueles ambientes. Em alguns pequenos trechos, a tubulação, os pisos e até as paredes serão transparentes para que se possa ver o que se passa por dentro e por trás. Os projetistas gravarão vídeos explicativos com os conceitos e a tecnologia embutida no projeto. Vamos contar a história da incorporação em todos seus aspectos, da compra do terreno, à discussão das questões urbanas e como chegamos a certas conclusões, por que optamos por determinados caminhos e até como escolhemos a escultura na praça. Todo o processo será, usando um termo de informática, “open source”. 

 

Da mesma forma que a sociedade valoriza o indivíduo, “o espaço público valoriza o espaço privado”. “Valoriza”, aqui, é usado no sentido de “aumentar o valor”.  Não estamos falando de vendas. Educação e aprendizado se transmitem de geração a geração, desenvolvendo e potencializado o crescimento de cada um e de todos em conjunto. Crescimento no sentido amplo, não apenas econômico. Norberto Odebrecht dizia, pelo menos assim ouvi dizer, que não treinava engenheiros para sua empresa, mas sim para o Brasil. Excluindo a pretensão da comparação, talvez com emulação, gostaria que nosso prédio não servisse apenas aos usuários e aos proprietários, mas também a outros, a São Paulo. É o conceito de “stakeholders”, talvez até ampliado.

 

Essa proposta de abertura vem do desejo de compartilhar aprendizado e experiências. Se nisso algum concorrente se beneficia, ótimo, que seja. Vamos buscar aprender com eles também. Vamos, como dizem os americanos, “raise the bar” ou elevar os padrões para todos. A sociedade ganha e ganhamos nós todos, juntos. Isso sim é ser inteligente, para prédio ou qualquer um..

 

Novos  Tempos, Novos Valores

O mundo está mudando. O mercado – isto é, as pessoas – querem entender e não apenas “comprar”. Antigamente o médico nem se preocupava em falar ao paciente qual era a doença: só prescrevia algum remédio. Hoje ninguém aceita essa postura e exige uma longa explicação. A informação está nas nuvens e todos querem ter acesso aos céus. Internet, Google, câmera no celular, Big Data, NSA, Snowden… A lista não tem fim, mas o segredo acabou. Como disse Bill Gates, “Intellectual property has the shelf life of a banana”**. Direitos autorais lutam e resistem, contudo tendem a se diluir num mercado mais líquido, fluido e rápido; um mercado que será mais abrangente, dinâmico e, também, mais rico. A informação é aberta a todos e a tecnologia não é mais hermética, inacessível, ou exclusiva de algum país, ou grande empresa e muito menos de um reles incorporador imobiliário. O know-how continua, no topo, mas nu, com seus “segredos” expostos à vista de todos. Talvez “segredos” sejam menos aceitáveis em todos os níveis na sociedade contemporânea. A competição se dará em outras dimensões, em níveis mais elevados, para além do Know-How. Outras qualificações serão demandadas nos “challenging times” * à frente, seja lá o que isso vier a significar no futuro.

 

E como ficam as lições do meu pai sobre o “segredo nos negócios”? Bom, aqueles tempos não eram de transparência, mas, com certeza, se ele estivesse vivo hoje, com os seus valores de verdade, de generosidade e de educação, seria um dos primeiros a trilhar esse caminho. O mundo mudou e nós mudamos juntos. Os valores e as lições apreendidas, estes sim ficam para sempre.

 

 

 

** a propriedade intelectual tem a vida de prateleira das bananas

* tempos  desafiadores